sábado, 6 de setembro de 2008

A domótica hoje em Portugal

A domótica é a integração da electricidade, da electrónica e das tecnologias da informação no ambiente residencial (apartamentos, moradias e edifícios de habitação), realizando a gestão técnica desses espaços, tornando-os inteligentes.
Um espaço inteligente é aquele que proporciona aos seus utilizadores uma total satisfação em termos de conforto, segurança, comunicações e poupança de energia e contribui para o desenvolvimento sustentável da sociedade.
Os espaços inteligentes, sejam eles edifícios ou habitações, constituem uma realidade e traduzem a evolução que as telecomunicações trouxeram para as áreas da electrotecnia, mecânica e segurança, assim como a sua integração numa envolvente de arquitectura que demonstra um maior respeito pelo meio ambiente e as gerações futuras.
Em termos de edifícios (escritórios, públicos, hospitais, hotéis, etc.) esta preocupação está bem patente logo de início pois, normalmente, os projectos incluem uma componente de controlo e automação que se destina a fazer a gestão de energia actuando primordialmente sobre o aquecimento, ventilação e ar condicionado (AVAC) e outras áreas como a iluminação, por exemplo. O próprio promotor imobiliário encara este “dispêndio de capital” com bons olhos pois, por um lado, a isso é obrigado legalmente, a partir de um determinado valor de potência, e por outro, sabe que a gestão técnica faz reduzir consideravelmente o consumo de energia, ou seja, os seus custos de exploração.
Mesmo no caso de o promotor construir o seu edifício e só depois querer decidir, de acordo com o mercado, que destino lhe vai dar (venda a uma única entidade ou a várias, ou simplesmente aluguer na totalidade ou em fracções) tem sempre a possibilidade, e já em muitos casos é o que se passa, de deixar espaços livres como tectos e pavimentos falsos, nichos, caixas e registos espaçosos e condutas, caminhos de cabos e tubagem onde á posteriori são colocados os quadros de controlo e automação e instalada toda a cablagem necessária para tornar o edifício Inteligente, isto é, com todas as instalações e sistemas adequados á ocupação que tem no presente sendo adaptável a novas utilizações, flexível em relação á utilização e evolutivo no que diz respeito a acompanhar as novas tecnologias que Amanhã não se sabe quais serão mas onde com certeza as de Hoje serão então obsoletas.
E, em termos das habitações?
Pois aí, as coisas não são tão claras! A domótica ou automação doméstica constitui, ainda hoje, algo que desperta interesse e curiosidade, mas constitui claramente uma excepção e não a regra em relação ao que existe no parque habitacional Nacional.Esta é uma verdade, mas constitui algo de estranho pois cada vez passamos mais tempo fora de casa o que obriga a que necessitemos de um certo tipo de ajuda para o controlo e gestão da nossa casa, assim como para a realização de um certo número de tarefas quotidianas. Quando chegarmos a casa desejamos que tudo esteja preparado, preocuparmo-nos o menos possível com tarefas aborrecidas e repetitivas e, deste modo, relaxarmos e, em segurança, desfrutarmos de um merecido descanso.O uso racional da domótica, tendo em devida consideração certas condições ecológicas, proporciona esta ajuda que tanto necessitamos.
Desde o início do Século passado que as nossas casas foram sendo gradualmente invadidas por produtos e equipamentos eléctricos, a maioria deles com muito pouca inteligência. Alguns, inclusive, possuem uma capacidade rudimentar de automação – como um termostato para manter a temperatura de uma sala – mas, são essencialmente unidades sem comunicação com outras e controladas manualmente.
Na década de 90, foram introduzidas novas versões destes produtos eléctricos, baseadas em microprocessadores. Foram também desenvolvidos protocolos de comunicação que proporcionam aquilo que se chama uma rede domótica.
Uma rede domótica pode ser definida como um conjunto de dispositivos “inteligentes” que utilizam um protocolo de comunicação sobre um ou mais meios físicos para levar a cabo os objectivos pretendidos. Assim, temos que uma rede domótica não é unicamente um par de fios (ou algum outro meio físico como a linha de energia, as ondas de rádio, o infravermelho ou a fibra óptica) que interliga os vários elementos, mas sim um conjunto de unidades capazes de comunicarem entre si através de um ou mais meios físicos que suportem a comunicação.
Estes dispositivos ou unidades podem classificar-se segundo a sua funcionalidade em:
Sensores: Capturam valores e informações do local como presença de pessoas, temperatura, falta de energia, fugas de água ou gás, incêndio, luminosidade, tempo, vento, humidade,...;
Actuadores: Realizam o controlo de elementos como electroválvulas (água e gás), motores (estores, portas, rega), ligar, desligar e variar a iluminação ou o aquecimento, ventilação e ar condicionado, sirenes de alarme,...;
Controladores: Gerem a instalação e recebem a informação dos sensores transmitindo-a aos actuadores;
Interfaces: Dão e recebem informação para e de o utilizador, constando normalmente de Teclado, Display, TV, PC, Telefone, Telemóvel, PDA, Internet, WAP,...;
Dispositivos Específicos: Elementos necessários ao funcionamento do sistema como Modems ou Routers que permitem o envio de informação entre os diversos meios de transmissão onde viaja a mensagem.
Posto isto, já definimos o que é uma rede domótica e como é constituída. Igualmente, já vislumbrámos várias aplicações, mas falta acrescentar que também nas décadas de 80 e 90 apareceram protocolos que se tornaram standards como o X-10, o EHS (European Home Systems), o EIB (European Installation Bus), o BATIBUS e o LON (Local Operative Network), entre outros menos divulgados, significando isto que vários produtos de vários fabricantes podem ser instalados numa mesma rede domótica comunicando todos entre si, desde que utilizem o mesmo protocolo. Isto seria o ideal, algo que de momento só os fabricantes integrados sob a organização EIBA que gere a utilização do protocolo e marca EIB, conseguem realmente fazer e que a nova mega organização denominada KONNEX (EHS, EIB e BATIBUS) pretende para um futuro ainda algo distante.
Tudo isto aliado ao facto de os preços se terem tornado mais convidativos até ao ponto de com algumas centenas de contos se poder automatizar um apartamento ou moradia nova ou até mesmo usada, pois um standard como o EHS que utiliza a rede eléctrica dos 230V como bus de comunicação não necessita da existência de uma précablagem ou pré-tubagem, tornando estas tecnologias ainda mais apelativas nessas situações.
Em Espanha, França, Alemanha e Países Nórdicos bem como em algumas urbanizações em Portugal os profissionais das imobiliárias afirmam que têm muito mais facilidade em vender habitações que possuem sistemas domóticos do que as que não os possuem. Mas, não nos enganemos! Isto são ainda excepções, pois a regra é construir e promover aquilo que é vulgarmente designado de gama de luxo ou alta (já nem falo na gama média ou média alta) sem qualquer tipo de sistemas de automação ou controlo, deixando ao comprador a opção única de vir a possuir uma habitação que já está obsoleta ainda antes de ser habitada.
As causas de tudo isto não se resumem à especulação imobiliária reinante ou ao facto de os projectos de electricidade que acompanham o processo para aprovação camarária serem, salvo raras excepções, de qualidade medíocre parecendo que se destinam unicamente a interligar lâmpadas, interruptores e tomadas, sem nenhuma preocupação em termos de energia que considere a climatização, a iluminação e os outros equipamentos, estando muito longe de contemplarem uma instalação domótica, pelo menos ao nível da pré-instalação.
Igualmente os projectos de arquitectura e construção civil deverão deixar de ser realizados unicamente para serem agradáveis ao olhar, quando o são !, e depois não possuírem orientação solar conveniente, um estudo das aberturas em termos de janelas e portas de varandas e balcões, um conveniente isolamento térmico ou acústico, uma utilização de materiais ecológicos ou um simples estudo da cor das fachadas de modo a que exista uma captação passiva da energia solar, transformando-se no conjunto de aberrações com que nos deparamos diariamente.
Portugal é um dos países da Europa onde a construção é mais cara e onde o nível de oferta, em termos de qualidade e bem estar no que respeita à habitação é menor.Seria conveniente que existisse uma política concertada por parte do governo, das autarquias e dos promotores imobiliários para que se os preços das casas não baixam, pelo menos que as habitações tenham uma qualidade superior e estejam preparadas para receber moradores que estão cada vez mais informados e que começam a valorizar a tecnologia e todo o conforto e economia que ela proporciona.
Alguns promotores imobiliários já utilizam sistemas domóticos ou as respectivas pré-instalações nos seus empreendimentos. Estas tecnologias já estão suficientemente maduras e disponíveis para serem instaladas, como o podem comprovar os muitos milhares de moradores que convivem diariamente com estes sistemas e que assim estão preparados para receber as novidades deste Milénio onde iremos ter igualmente os electrodomésticos conectados, o infoentertenimento e os equipamentos de áudio e vídeo inteligentes e a conviver com as outras instalações da casa através de novos protocolos como o JINI, o UPNP ou o OSGI.

Nenhum comentário: